04/01/11

Se te perguntar coisas banais, como 'a que te sabe a água', o que responderás?
Provavelmente responder-me-ás que não tenho legitimidade, de qualquer natureza, cheiro ou formato para o fazer. Dir-me-ás que me intrometo, que faço correr ligeira a lâmina de uma qualquer foice em seara alheia. Ficarás descansado quando deixar de me preocupar contigo. Sentirás um alívio feito todo todo de coisas banais, daquelas sobre as quais não te pergunto nada, de água mole.
Sairás de casa apenas porque sabes que ela não pode seguir-te, a casa. Queres algo dramático? Sabe que ouvirás, à noite, os cães vadios a latir...
-Boa noite. Tudo bem? Que tal o dia?
-Estava para aqui a fazer a lista das compras... Tudo bem.
-Ainda bem. Estou exausto, vou-me deitar.
-Fazes bem.
... e vais saber que ladram à minha passagem. Que virei todas as noites atormentar-te nesse teu sossego de dormir ao fim do dia, morto-vivo. Onde estiver, ser-me-ás indiferente, mesmo quando passar para que os cães dobrem por ti.
Papel sobre a mesa. Sabe ler mesmo quem tem vida de cão. Dorme.

1 comentário:

x disse...

não pude deixar de me lembrar das 'três cartas das memórias das índias', do al berto. não sei muito bem explicar porquê. posso apenas dizer que são e serão dos meus textos preferidos de sempre. *