04/02/10

Quando a luz do dia escasseia, num dia curto de Inverno; quando acordas e as cores pardas de início da manhã chuvosa te penetram a alma sem que as tenhas visto sequer; quando a água quente do duche te percorre a pele e não consegues matar o frio que te gela as veias e a vontade; quando choras apenas porque o dia começou e não sabes como o poderás viver sem medo, um medo que não sabes de onde vem; quando tens demasiados dias assim e te deixas morrer lentamente e quando isso é quase aquilo que desejas, arranca tudo o que tens vestido, mata o frio com o medo, o medo com a raiva e aquece-te nesse fogo furioso que te agarra à vida, como um fio. Se não conseguires, ao menos sobreviveste, contra todas as expectativas. Amanhã, será outro dia, como tantas e tantas vezes repetes. Talvez venha a ser o dia em que descobres aquilo que te persegue. Nunca se sabe.

5 comentários:

Claudia Sousa Dias disse...

arrancar tudo que se tiver vestido desde que não se corra o risco de morrer de frio...


estes dois últimos textos estão muito bons.


para não variar.


csd

Rafeiro Perfumado disse...

Sobreviver apenas é pouco, há que ter ganas para saborear cada momento desta experiência maravilhosa que é respirar. A não ser que a malta seja asmática, claro...

P disse...

Pois é, caro RP. Mas, por vezes, há vidas assim, momentos assim e vêm ter connosco, enquanto for apenas nestas narrativas...

x disse...

aí está um (?) sentimento que conheço e uma forma de vencer o medo que tento experimentar mais vezes do que queria, mas sobrevivo...sim. (perfeito) *

P disse...

Infelizmente, pode ser algo autobiográfico. Felizmente que há sempre amanhãs e esses podem sempre surpreender-nos. E nós podemos reagir, sempre. O pior medo aquele cuja origem desconheço, é o que mais testa a resiliência do material de que sou feito. De uma soma de sobrevivências e de antevisões de paraíso se vai fazendo a vida. E será bom, isso.