07/11/10

Fala o ditador frente a uma fila de cadeiras vazias, agita os braços.
Move-se o histriónico agitador, conformado na sua agitação.
Agita-se o animal no estábulo, antecipação fremente de cio, aventura, morte, tudo rotina.
Fala o louco com o sol, agita os braços.
Fala o louco com o sol, agita a consciência do sol.
É um agitador, o louco.
Liberta o louco os animais presos e diz-lhes que podem sonhar ao sol.
Faz falta tudo menos medo, ao louco e aos animais que sonham ao sol.
Ao ditador falta-lhe sol e a consciência agitada do sol, sem braços agitados, os dele e os do sol: para o ditador, tudo carece de explicitação.
E falta-lhe gente nas cadeiras.
Sonham com ele, ditador, as pessoas em casa, nas suas camas de sono e paixão.
Sonham um sonho curto no qual ele ocupa o estábulo, sem sol.
Agita-se o ditador no estábulo, antecipação de uma rotina de ditador torpe.
Agita-se a consciência do sol.
Liberta-se o sol e enche-se a fila de cadeiras frente ao púlpito do ditador orador de estábulo.
Incandesce o sol um sonho súbito.

2 comentários:

Custódia disse...

Como eu te compreendo !!!!Poderei colaborar ,sem caminhar a teu lado ,mas ALEGRANDO-ME ,com o teu EU.

x disse...

brilhante. *