11/12/10

Teces teias. Teces incansáveis teias, como tu, incansável nesse tecer de cordões umbilicais feitos fibra dura. Não será por mal, dizes tu, e teces teias. E na teia tecida e por tecer, vibram as presas da tua necessidade de estar omnipresente, de reduzir a identidade ao tempo em que não se era ainda, ao tempo em que o todo organicamente existia. Teces teias e incitas a uma violência de subentendidos e insinuações. Não é por mal, dizes, e teces teias de vício, sempre velho, de pretenso messias, comandante de oníricos exércitos redentores. Teces e teces até à náusea, a tua própria própria teia, a tua própria náusea. Pode acontecer que te tenhas erguido do pó ao conceberes essa ideia seminal de que, sem as ditas  e reditas teias, não podes sobreviver, de que a ausência de tensão equivale a vazio ontológico. Talvez o tempo, a vontade ou a falta desta te privem do amor, daquilo que não é compatível com jugos, juros e cobranças, de ver que a liberdade implica o Todo. Ninguém que teça ou caia numa teia experimentará sequer o voo emancipatório.
Vidas de voo em simulador, vidas pesadas. Seria bom experimentar a leveza de tentar viver.
O amor tece luz entre as vidas e escreve, em caligrafia clara, Cartas de Alforria. Acredito que o hábito pode não fazer o escravo, mas deduzo que não escreverás a tua. As Cartas de Alforria não são para quem pode, são para quem Quer.

"[...] a liberdade, unicamente a liberdade."
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego)


3 comentários:

lupuscanissignatus disse...

enredados

ou

arredados?

P disse...

enredados e arredados.
libertados?

filipelamas disse...

Aqui fica um abraço de Bom Natal e excelente 2011!