02/10/12

Citações e cartas que nem o lixo quer II

"O ser humano é sôfrego ao sobrevalorizar aquilo que desconhece. O desconhecido, sempre que lhe é apresentado como sinónimo de qualidade, tende a adquirir um estatuto de obra de arte, sem que o receptor saiba os critérios que terão levado a essa categorização. Toda a arte pode então ser uma falácia e, em bom abono da verdade, a quase totalidade de objectos, produtos, a que, não apenas o senso comum, mas sobretudo a auto-aclamada crítica,  decidiram classificar como arte, não passam de um logro acintoso, uma afronta à Arte dos clássicos, um consolo para a mente dessa abstracção que, tão convenientemente, se convencionou designar de Povo."

Xavier Freitas de Montalvão, O Resgate dos Clássicos e a Civilização Ocidental.


Estimado Montalvão,
Meu caro Xavier Maria, permita-me que o trate assim,

espero que esta missiva o encontre de boa saúde, com o corpo revigorado por essa permanência junto ao mar. Sei como isso é um mergulho na sua infância, uma aventura e um conforto em simultâneo. Reli, e comentei com a minha mui doce Cremilde, o facto de me sentir irmanado a si nesta sua demanda pela pureza da arte. Os propalados museus de arte contemporânea, esse flagelo da tão apregoada modernidade, provocam no meu ser um esgar que não sei se é de dor ou de do mais despudorado nojo.A arte do disforme, o elogio da falácia estética, esse libertino falar de excremento, utilizando toda uma terminologia a que só o Belo deveria ter direito, não é mais do que uma aberração que nos mostra o quão perto estamos de um Apocalipse cultural. E estamos, Xavier, não tenho a mais tímida dúvida.
Comprei também o novo livro do Teotónio Salgado, edição de autor que merecia divulgação planetária. Muitas verdades se revelam em escassas cento e duas páginas de amor pela Verdade. Vou enviar-lho para a sua casa de Cinfães, sei que vai agora para o seu retiro... Verá que até o título lhe vai dar um arrepio na alma, daqueles que nos mostram o dedo de Deus a dar bom senso a quem ainda tem coragem de lutar por uma Terra sem o maligno à solta.

Receba a minha amizade e admiração.
César Maciel Gouveia


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