30/11/12

bom fim de semana, desliga as luzes à saída

Exílio. Portas fechadas por medo de frio. Agitam-se milhares de pequenas flores amarelas sobre um verde de ervas húmidas. E sempre o muro branco do qual já ninguém te pode ouvir falar. Já o descreveste, por escrito, em cartas e outras formas de te fazeres chegar aos que julgas estarem do outro lado. É assim que falas. Existes tu e o outro lado. As lâmpadas fluorescentes velhas criam o que tu, há uns anos atrás identificavas como a luz artificial numa casa estranha, num país longínquo para o qual tivesses sido obrigado a ir, com frio. Nunca foste e sentes frio, o frio fluorescente das lâmpadas compridas e espaçadas no tecto. Começaste a clamar, há pouco tempo, a tua vontade de viajar, de sair deste aqui. Sabes que não conseguirás porque o teu exílio és tu e tudo o que consegues ver é o tejadilho dos autocarros por cima do topo do muro branco. E fechas portas e janelas, com medo de tudo. Fazes do acto de adiar a tua libertação, sabendo que estás sempre mais e mais enredado nesse incumprimento, que são essas as raízes que contra ti alimentas. És assim, o que posso dizer-te que tu não saibas já? Ainda assim, hoje posso fazer de conta de que não te perdeste e de que tens uma boa parte da tua vida à frente. Podemos fazer essa espécie de pacto e hoje é o dia de falarmos de hoje. Posso dizer-te que amanhã é podes ser outro, ser mais, ser melhor. Vais ouvir-me. Faz parte do pacto fazeres a tentativa de me tranquilizar, de que ficaste motivado. Amanhã não será hoje e este pacto não se mantém sempre. Sei que, um destes dias, vais olhar para o muro branco e não vais suportar mais. Aí vou receber um qualquer telefonema ou outra forma de te fazeres chegar até mim e vais pedir-me que não pense de ti o que tanta gente pensa. Sei o que isso importa para ti. Vou imaginar-te a saltar o muro branco. Tudo isto soa a xarope sentimental sobre amizade, sabes isso não sabes? Ainda assim, mais uma vez, hoje é também dia disso. Amanhã é dia de sair ao frio e esperar que me chegem notícias de que deixaste o exílio. Expectável.

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