Chegas a casa. O cheiro da rua
ainda em ti, algo de selvagem que já incorporaste, hábito de palmilhar a cidade em alerta. Olhas-me sem desejo, sem o
desejo do interior da casa. Acendes a lâmpada pendurada do centro do tecto, uma
lâmpada sem qualquer protecção, despojada. Olhas-nos como dois versos sem
possibilidade de rimar. Sais, enquanto te imagino morna e nua; tu, se me imaginas, ver-me-ás vestido com roupa invernosa
e à chuva. Não nos voltaremos a ver. Sempre te li como uma peça de teatro,
sempre te escreveste em poesia. Nunca aprenderemos a ler-nos.
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