«1 Não se perderá um só pingo de chuva na tua pele. Não se encontrará vestígio de ti nessa água.
Crescerás rebento de arbusto cativo. Os teus dias serão feitos de lamentos sem justificação e contemplação absurda do sol, esperando cegueira que se instale e te dite nova condição ontológica, que adoptarás até ordem diferente.
2 Encontrar-me-ás à tua porta, para te dar de beber, e não me reconhecerás. Desconhecerás três vezes quem sou e porque dei passos até ali. Não responderei a qualquer pergunta, porque tu és a resposta para todas as perguntas formuladas e por formular. 3 Sairemos desta chuva sem que haja desejo à vista e tudo será mais claro, sem desejo. O desejo não é digno de feitos grandiosos, não deve ser alimento de epopeias, não pode ser celebrado em cerimónia que o torne memória. 4 Pelo contrário, a chuva, como tudo o que nos leve para debaixo da terra, será glorificada pelos séculos dos séculos. A chuva e deus, a arder em arbustos, dilúvio de fogos apagados, eclipse de sangue fervente. Assim serão os tempos quando tudo estiver completo. 5 Verás.»
(Colheremos os maduros frutos da aurora, Aulus Martialis, 23 d.c.)
[eco improvável:]
- Seria perfeito se pudessem coexistir, num dado momento, a melancolia da chuva e o brilho inebriante de um dia de céu limpo e sol resplandecente.
- Impõe-se que discorde. Isso seria apenas uma ideia pequena, de concretização indesejável. - Seria perfeito se pudessem coexistir, num dado momento, a melancolia da chuva e o brilho inebriante de um dia de céu limpo e sol resplandecente.
(Colheremos os maduros frutos da aurora, Aulus Martialis, 23 d.c.)
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