04/11/17


A dúvida seria boa conselheira se não estivesse tudo como num chão de pó e pedra miúda, no qual os passos fazem ruído em excesso para que se possa surpreender um pássaro no seu sono. Tenho dúvida sobre se deve um pássaro ser surpreendido no seu sono, se isso não fará de quem o observa um impenitente voyeur, em busca de intimidade selvagem. Poderia observar-se o sono de pessoas, preferencialmente desconhecidas, por horas, dias, meses e ser esse o projecto de uma vida. Subsistiriam sempre os problemas do mais ínfimo ruído indisfarçável e da impossível invisibilidade. O chão da intimidade alheia é infinitamente sensível ao atrito do olho intruso.

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