No início éramos nós. Depois, ele chegou e pensámos coisas estranhas sobre ele. Era de fora, andava meio de
lado, falava de uma forma estranha a nossa língua. Cheirava a terra molhada, mostrava
sorrisos abundantes e pronunciava demoradamente palavras como ‘discernimento’
ou ‘tomilho’. Viera de Oeste, dizia, e ninguém vem de Oeste, dizíamos. A Oeste
há o mar e a América, depois dele, novamente o mar e mais continente, depois
dele, até termos circundado a Terra inteira com o entendimento possível. Ninguém
chega assim a sorrir, vindo de Oeste e amanhã resolvemos isto, dizíamos. Alguns
amanhãs depois, ele chegou-nos sem sorrisos, com roupa da nossa, a cheirar a
sabão e declarou que lhe restava difusa memória de onde viera. Talvez tivesse
chegado do Sul, talvez sempre tivesse estado por ali, sem que dessem pela sua
existência. Nesse amanhã, ele foi já um de nós.
Sem comentários:
Enviar um comentário