13/04/18

No início éramos nós. Depois, ele chegou e pensámos coisas estranhas sobre ele. Era de fora, andava meio de lado, falava de uma forma estranha a nossa língua. Cheirava a terra molhada, mostrava sorrisos abundantes e pronunciava demoradamente palavras como ‘discernimento’ ou ‘tomilho’. Viera de Oeste, dizia, e ninguém vem de Oeste, dizíamos. A Oeste há o mar e a América, depois dele, novamente o mar e mais continente, depois dele, até termos circundado a Terra inteira com o entendimento possível. Ninguém chega assim a sorrir, vindo de Oeste e amanhã resolvemos isto, dizíamos. Alguns amanhãs depois, ele chegou-nos sem sorrisos, com roupa da nossa, a cheirar a sabão e declarou que lhe restava difusa memória de onde viera. Talvez tivesse chegado do Sul, talvez sempre tivesse estado por ali, sem que dessem pela sua existência. Nesse amanhã, ele foi já um de nós.

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