15/07/24

"Agora, que é tempo de armas, não há guerra que se limpe. Não é tempo de combater outros fenómenos naturais, como o crescer das unhas, ou dos cabelos, ou das orelhas. A capacidade de se ser limpo diminuiu à medida que se foi ficando sujo de armas, com a pele revestida dessa camada de ossos quebradiços. Ficará a inércia para sempre colada a qualquer um dos que maneje armas e não haverá retorno para o glorioso percurso da humanidade rumo à medalha olímpica." 
Isto explicava um Mestre a discípulos seus ou de outro Mestre qualquer que por ali deambulassem. Exortava-os a combater o mal, vencendo a inércia. Eles anuíam, cansados destas exortações meio enigmáticas e começavam a duvidar do sentido que tudo aquilo faria. Nem a guerra estava à vista, nem havia armas nas mãos. "Ele inverte e perverte provérbios e similares, sem outro critério que um proto-mistério, para parecer sábio. Com isto nos tem reféns de uma sabedoria fátua." E prosseguia: "Agora, não nada mais o filho do peixe, por não passar a água por debaixo de pontes, mas antes as pontes sob as águas." 
Segui a exortação: "Em tempo de guerra, limpe-se o Mestre!" 
Assim se fez e, livres, os discípulos descansaram todo o tempo que teria sido o da exortação. 
Veio a guerra e, sem surpresa, não havia armas, limpas, sujas ou de outro tipo qualquer.

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