Debaixo daquele chão, dos mosaicos que reproduziam padróes geométricos na cozinha dos meus avós maternos, poderia existir todo um mundo. Cada quadrilátero uma porta, um alçapão, cada linha um uma fresta, uma oportunidade, cada ângulo uma dobradiça. Sob tudo aquilo, criaturas de todas as classes, ordens, naturezas e feitios, numa escala compatível com o espaço disponível, entre o relativamente exíguo e o infinito. E todos eles eram, existiam perante a minha curiosidade sobre aquilo que poderiam fazer, que artefactos construiriam, com que materiais e propósitos, quais as suas linguagens, que línguas falariam, que usos teriam, que deuses adorariam, que maravilhas os deixariam fascinados, que dores teriam que suportar.
Resolvi, desde cedo, deixar tudo isso sossegado, entregue ao sortilégio de saber que poderia aquilo e muito mais existir, mas que não revelaria eu o segredo. Esse era o tempo em que criar podia não ser mais do que ficar a contemplar mosaicos, como só uma criança distraída o pode fazer.
E eram já tão vastos os mundos possíveis e o segredo.
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