As pedras acutilantes, pedras de dois gumes por debaixo dos pés.
A sombra do murmúrio das folhas por sobre o cinzento do betão,
Por entre ferros retorcidos de fundações adiadas,
Por sobre o vermelho suicida do crepúsculo.
Paraste sobre as águas, ou sobre um floco de uma neve impossível,
Quente,
Sôfrega do teu calor.
Paraste, sem que nada o fizesse prever,
Sem que as cores dos teus lábios dissessem algo sobre ti,
Sobre a tua agitação, sobre o teu sofrimento.
Mais uma palavra e tudo estará consumado,
Mais duas grilhetas, apenas duas, o que te falta para poderes falar.
Mais uma raíz para sempre na terra infértil,
Mais um ramo à espera
Talvez de ser queimado pelo fogo,
Um fogo qualquer que nunca ninguém terá visto.
Acabou, podes dizê-lo com a tua boca,
Com todas as nuances da tua voz,
Como quiseres.
Paraste porque não tens alternativa.
Esgotaste o sentido do movimento,
Exauriste-o sem qualquer glória, sem um vislumbre de nobreza.
Deixaste que tudo fluísse rumo ao centro da terra
E se fundisse.
Entregaste-te na vertigem de um buraco negro,
Nu e frio como o natal do amor que nunca viste.
Fala, se quiseres, mas sê lúcido como a morte mais cínica.
Acabou e podes dizê-lo, se te restar alguma forma de o fazeres.
Estás morto, já to disse, acabou.
16 comentários:
e assim num repente sai-me todo o ar dos pulmões e respiro as palavras, sentindo-as minhas, sabendo-as da minha cor, lendo-as como se nas minhas mãos
(é bela a magia que se faz com a poesia).
Mágico, de facto!
obrigada por todos os comentários, mas sobretudo obrigada pelo último..e parabéns por este texto
Boa sorte para o embate do final do mês!
Abraço académico!
Baudolino!
Claro que me divirto com as pistas. Acho isso bem giro e até já voltei atrás nos posts anteriores para reler os comentários. Ah! É verdade... não gosto por aí além de Arcade Fire. A melodia é boa, mas a cantar deixa a desejar... no Funeral, até "grita" demais para meu gosto.
Quanto ao texto: Acabou! Não pode! Nada acaba. Fica na memória, mesmo que nós não queiramos. Persegue-nos, por vezes, quando menos esperamos. Tentamos colocar um ponto final numa história, mas apenas ficam reticências.
Grande abraço.
PS: Não vou dando resultados sobre as pistas deliberadamente... mas acho que ainda estou "frio, a ficar para o morno". LOL
Gostei muito do início!
Abraço,
FM
No sé si lo entendí del todo. Mada acaba definitivamente, sólo se detiene en un instante único, que puede o no ser repetitivo (lo que llaman Dejá vu), pero no creo que acabe, pervive en otros foros, con otras formas.
Un abrazo.
"C'est toi!
C'est moi!" (Carmen e D. José in "Carmen" de Bizet) - é o que me faz lembrar este teu poema...
Olá! Agradeço a visita ao meu blog. Ao passar aqui para retribuir, encontro um blog repleto de textos interessantes e bem seleccionados. Parabéns!
ainda estou a ruminar sobre um ou outro texto que precedem este...
também se lê com a pele ...
abraÇo*
Parabéns pelos bons textos, com profundidade de sentimentos. Obgd pela visita.
texto poderoso, as palavras implacáveis parecem nao querer oferecer perdoa.
parabéns.
"Paraste, sem que nada o fizesse prever,
Sem que as cores dos teus lábios dissessem algo sobre ti,
Sobre a tua agitação, sobre o teu sofrimento."
adoro este versos, especialmente. gosto mesmo de passar por cá e ler o que escreves, é realmente e simplesmente bonito. *
senti mt este texto, palavras belas de tão triste.
*
"Entregaste-te na vertigem de um buraco negro,
Nu e frio como o natal do amor que nunca viste."
acho que nunca li palavras que se sentissem tanto por dentro. obrigada*
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