24/02/10

E, sem que o esperes, a dias mornos e a um torpor hipnótico, seguem-se dias de Apocalipse, desejo de Juízo Final, dias em que quase sentes que tens na mão a chave do abismo, dias de confusão entre o Alfa e o Ómega. E questionas-te sobre se consegues passar pela tribulação que te toma de assalto, se resistirás a contornar a fonte da ira e da violência sem dela beber um trago ou sem nela saciar a sede como os animais ao fim de um inclemente dia de calor. Respira e olha em teu redor. Não terá de ser assim, pois não? Não terás de optar pelo salto ébrio do cinzento para um qualquer mar de sangue. Então, colocas umas reticências no desejo de que chegue o fim dos tempos. E lês, no Livro das tuas Revelações, em caracteres já meio gastos, que podes ter um novo céu, uma nova terra. Então repousas, ainda que no pó do chão e com a cabeça reclinada por sobre uma pedra à beira do caminho. Há dias em que experimentarás a impotência total do livre arbítirio, dias nos quais, entre céu e inferno, não distará mais do que a tua vontade ou a falta dela e isso é muito menos do que o que fica ao alcance da tua mão.
Como sempre, amanhã será um novo dia. Veremos o que queres e podes fazer.
Sabes, às vezes fico cansado de ouvir as tuas palavras e de ser testemunha e cúmplice das tuas tentativas teimosamente falhas de tanta coisa. Mas isto, tu já o sabias, penso eu.

10 comentários:

ml disse...

gostava de conseguir comentar os textos mas, como sempre, acho que qualquer palavra é demasiado fútil ao lado de todas as que escreve.

*

Luísa

vieira calado disse...

Eu, por mim, achei o texto muito interessante.

Um abraço

x disse...

«Há dias em que experimentarás a impotência total do livre arbítirio, dias nos quais, entre céu e inferno, não distará mais do que a tua vontade ou a falta dela e isso é muito menos do que o que fica ao alcance da tua mão.»
no fundo é sempre assim, não é?

P disse...

Obrigado L, VC e x.
x, não sei se será sempre assim. Há dias em que nos sentimos deuses, talvez, enganando o livre arbítrio e a responsabilidade. Perigosos dias, esses. Mas também, é de todo este céu e inferno que vamos fazendo felicidade, talvez. Sem a suposta virtude, sem meio termo. Hoje penso isto porque me cheira a revolução, uma revolução qualquer. Amanhã pensarei outra coisa talvez. (percebo agora que é a revolução da incoerência: que venha ela! Faz-me falta neste início insano de semestre, com as obrigações do mestre-escola de adultos e os preceitos da investigação a haver.)
Desculpem-me todos o desabafo matinal nesta sexta-feira chuvosa.

x disse...

sim...compreendo. (desabafa sempre)*

x disse...

sim...compreendo. (desabafa sempre)*

Amândio Sereno disse...

Viva à Revolução! (ou pelo menos à sua hipótese)

filipelamas disse...

Mesmo que a destinatária já o soubesse, assim dito, de modo tão sublime, sabe sempre bem ouvir:)

S disse...

Cliquei nos comentários, disposta a deixar a minha marca, mas a verdade é que fiquei sem palavras, já tudo foi dito. Muito bom.

x disse...

leio e volto a ler, na esperança que quando abra esta janela, já tenhas voltado a escrever. *