E um pobre vive exactamente como os detentores do dinheiro esperam que viva um pobre. Com pouco dinheiro, à beira do abismo, com a humilhação feita arma de amolecer corações e com o coração endurecido, com as expectativas levadas ao abismo e calcinadas, chacinadas. Doutor nenhum sabe o que sente um pobre. E cada pobre tem o seu penhor de dignidade de ser diferente de qualquer outro colega pobre. Assim vive um pobre. Assim, ou de outra maneira qualquer, desde que empobreça e seja essa terra fértil na qual os benfeitores generosos deste mundo e de outros poderão ganhar céus e terras semeando a sua caridade em tostões brilhantes que todo, todo o pobre, sem excepção, deve agradecer servilmente, como o ar que lhe entra pelos pulmões sujos e cheios de doenças de pobre. Um pobre tem como janela os olhos, as órbitas dos olhos. Delas vê o mundo à sua frente. Da sua casa imunda e vazia, na sua essência, vê o mundo radioso dos que lhe fazem bem e fuzila a corja de colegas pobres que competem pelas mesmas migalhas redentoras. E fecha as janelas em qualquer lado. Por ali fica, pobre.
Sem comentários:
Enviar um comentário