“De manhã, sai da trincheira, limpa a espingarda, retira com cuidado o sangue da baioneta.” Não há humor negro, nem outras coisas de outras cores, que possam fazer eco dessa situação, frase há muito escrita. A vida é demasiado ambiciosa para se contentar com pequenos apontamentos em caderno de jornalista amador ou de escritor de armário. Disseram-te que não havia mais baionetas como as dos filmes. São diferentes as coisas agora, já percebeste. Tudo se mostra mais evoluído, a arte de matar frente-a-frente é mais eficaz, mais eficiente, empreendedora, como se diz agora acerca de tudo o que cabe na categoria das acções ou factos que impelem os pés esquerdo e direito da vida a suceder-se para que nada caia, por efeito pecado da inércia, essa luxúria ociosa que nada traz além de pensamento solto e contemplação. Não te submetas à tentação de parar, hábito vicioso, como olhar o espelho e ver nele os sulcos que a parte pior do que és foi traçando, no rosto e no espelho. Será razoavelmente inelutável que tomes atalhos, que não vejas o nascer do sol como uma bênção, que sintas, a cada dia, mais umas horas de vigília como o inevitável, a grande fatalidade de rastejar como sinédoque do voo livre. Por cada nascer do sol, menos um dia no teu calendário pessoal. Deixa que te diga, sabendo que dispensas (smepre dispensaste) o meu sarcasmo: estás na vanguarda da morte em suaves prestações, valha-te isso, sem baionetas nem sangue.
2 comentários:
e que regresso! sabe bem ler as tuas palavras nos dias mais ocupados, so far, do ano.
abraço
Baudolino, a escrever cada vez melhor...
bjs
csd
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