17/09/11

O céu, a terra, as cores das casas, a tinta de tons diversos, exuberantes por sobre a tinta da madeira. As casas. O lago, que me é estranho porque sou mais do deserto e os lagos não me são familiares, reflecte as cores das casas, as tintas, o azul pálido do céu. Tudo como numa natureza morta com gente dentro, tu, eu, todos. Encontrámo-nos em tempos, vinhas tu em busca do amor de alguém que eu conhecia e pensei sempre que era algo de impossível e exótico mas foi assim que tudo aconteceu. Encontro-te agora, porque agora se podem ver e rever as pessoas de formas diferentes e reconheço-te o rosto familiar, uma face que me poderia ter sido mais familiar ainda, uma face que se reflecte no lago, como as casas e as tintas. E penso que poderíamos ter sido amigos. Se calhar ainda o poderemos ser, como se tudo o que não foi pudesse ter sido. E, agora que bebi um copo a mais e algumas coisas próprias e alheias se tornam mais difusas, penso em como a vida é mesmo curta demais para que possamos recombinar amizades e para que amores se refaçam. Não terás o amor que procuravas, pelo menos nunca te será confessado, julgo eu, embora continues a buscá-lo porque agora se podem buscar e rebuscar as pessoas de formas ditas novas e diferentes. Quem procuras, essa imagem imatura que fugirá de si própria até ao seu próprio fim, não te cairá nos braços como ainda hoje desejas. Mas isto já o disse. Repito-me, talvez. Agora, que bebi um copo a mais e as coisas me surgem na memória com um grau de contraste paradoxalmente superior, insisto em que poderiamos ser amigos. Nunca seremos o que queremos, nunca seremos o que queremos, nunca, nunca. Volto a repetir-me, tanto.
Sejamos então aquilo que podemos e bebamos um copo, ou muitos, os que quisermos, enquanto continuamos naturalmente as nossas vidas, a minha exuberante, com os meus amores a cheirar a flores em dia de cheirarem as flores a coisas muito boas, a tua, com luz de fim de dia em terras do norte, cheia de fotos coloridas de casas que se reflectem num lago de beleza simples e felicidade duvidosa. E será também isto que ambos levaremos da vida, nós que nos vimos uma ou duas vezes na vida. Levaremos isto connosco, pelo menos hoje, dia em que, casualmente, bebi um copo a mais e nem sei já se as coisas estão mais nítidas ou mais opacas.
Vejo-a, bastantes vezes, a ela. Queres que lhe fale de ti?

2 comentários:

S disse...

Já por aqui passei variadas vezes e me detive neste texto. Escrevi vários comentários acabando sempre por os apagar. Parece que por mais que tente dizer, as palavras não saem certas. Já as tuas estão soberbas. Gostei muito.

P disse...

Pois o mesmo me acontece com as tuas fotos. Bem que podemos fazer umas parcerias se, quando quiseres.