O pai dele sabia que o jantar
tardaria muito mais do que uma simples hora, sessenta minutos de matar fome idiota
por sobre uma toalha de mesa com motivos de gaivota a esvoaçar por entre ondas
do mar estilizadas. Foi assim que se conheceram. Viram-se e amaram-se sobre uma
toalha de mesa plastificada, como se estivessem ambos num cemitério cheio de
campas enfeitadas com flores de plástico coloridas e com plástico rudemente
talhado, molde chinês para consolar mortos ou comensais sem que uns e outros
pudessem escolher alternativas. Assim se tocaram as mãos pela primeira vez e
souberam que seria assim consumado o seu amor. Por mais que sentissem toda a
sua vida como um lugar comum, uma prateleira de loja de chineses com vida lá
dentro, foi assim que avançaram pelo tempo, mão na mão, seguros de que quem o
feio ama bonito lhe parece. Flores de plástico podem ser a suma felicidade para
quem não ambiciona colher uma papoila e vê-la perder-se apenas por isso. Os
grandes amores poderão ser mais feitos de flores de plástico do que de papoilas
voláteis a sangrar seiva branca em vida efémera.
2 comentários:
Fique com uma obsessão visual por este texto. Faz sentido?
bjs
Faz, ss. Não é muito meu costume mas o título é real... E foi automático. Escrevi sem controlar, ostensivamente, o que quer que fosse. Apenas pensei num quadro inicial, como se tudo fosse fixo e onde o único movimento possível não fosse o dos detalhes da cena ao jantar mas antes um condensado de vida. Não tinha voltado aqui e agora que voltei e li o teu comentário... reli o texto e faz sentido. obrigado.
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