05/10/12

Ando contigo, algumas palavras, poucas convenções. Avançamos pelo caminho de terra, húmido o chão. Passa uma, outra pessoa, um ou outro par está por ali, como nós. Preenche-nos a luz fria de fim de dia em dia frio. Terra fria que nos faz sentir em casa, talvez por não o ser. Poderiamos ser outros, aqui, sendo os mesmos. Lugares comuns de quem está menos farto da vida do que do cenário no qual ela parece diluir-se. E vai-se fazendo noite, naquele parque, um recanto inesperado de uma Estocolmo estranhamente nossa. E poderia fazer-se amor ali, na espera do eléctrico de fim de dia, em dia frio. Penso que o fizemos, ou que nos sentimos como se o tivéssemos feito, a perceber como a noite demora mais a chegar apesar de chegar tão cedo. Seguimos, de mão dada, como se não nos pesasse a vida e a falta de dinheiro e o medo do futuro que já nos comeu uma parte do que havemos de ser, em notas de crédito e sonhos a cheirar a mundo rarefeito. E faz-se o futuro com memórias e lugares comuns, reconforta-se a memória com imaginação, tudo aquilo que nos pode roubar às arestas cortantes da lucidez.
Hoje fico contigo naquele fim de dia, a andar meio perdido. Sei que te lembras. Daqui a pouco vou perguntar-te. E talvez façamos amor ou algo nosso que faça a noite chegar mais tarde e ficar por ali a demorar. Hoje estamos vivos.

1 comentário:

Claudia Sousa Dias disse...

Hoje deambulei no parque recém-inaugurado em Famalicão de uma forma algo semelhante. O tempo está bom e as pessoas encontram ali um escape ao lado feio da vida.