04/06/13

das obrigações contratuais e do fim das mesmas

Faz-se a vida também de placas em estantes de bibliotecas a ordenar silêncio. Fazem-se silêncios como coisas vãs, por decreto.
Vive-se em cidades sem expressões idiomáticas na voz, cidades em rarefacção, texturas erodidas. Sonha-se cerceado; o sonhado é funcional, de legitimação condicionada à confirmação de que também ali, de olhos fechados ou abertos, se vai manter a ligação à vital realidade da lei e da ordem.
Sente-se o corpo, a sua força, a sua capacidade para remover obstáculos, para terraplanar e forçar as entranhas da terra, para forjar armas a partir do metal, para estar sentado numa cadeira a vida toda, em ordem ao progresso cantável em hino, de mão no peito. Vive-se o corpo como se ele não fosse todo feito para prazer e a dor do trabalho um mero acidente, uma contingência. Perde-se, neste pragmatismo compulsivo, a força do corpo que haveria de ser preservada para extenuante, gratificante cinética erótica.
Vive-se como é esperado que se viva, com ligeiras variantes. Não se vive como se quer, porque se sabe que não se pode e, mesmo que se pudesse, pareceria impróprio, seria desonesto, rotulável como incumprimento do contratualizado na hora de comer a liberdade do fruto proibido.
Vive-se sem declaração formal de guerra à escravidão auto-imposta, à existência morna, sem denunciar os contratos perversos celebrados num qualquer acto de criação.

2 comentários:

Claudia Sousa Dias disse...

as minhas estantes de livros por ler também me gritam...todos os dias. e até meados de Julho não tenho quaisquer hipóteses de lhes pegar...

P disse...

Se foram feitos para ser lidos, só descansam quando o fazemos!
bj