07/02/17

Um dia poderá ser assim: "Esqueço-me de ti, à medida que o Inverno passa e os dias menos frios dão lugar a outros que o são menos. Reconforta-se a pele com o ar menos frio. Esqueço-me também de tanta coisa, quando os dias começam, de novo, a ficar mais frios. Espera a pele ser confortada com algo que a cubra e parece esquecer-se também do que é ter o ar mais frio a tocá-la. Resta sempre a face e ficam, se se quiser, as mãos para guardar essa sensação. Tudo é circular, é o que apetece concluir. O que fica quando se esquece tudo? Nestas idas e voltas de frio, não faltará muito para que olhe o espelho e apenas o veja a ele, espelho, e àquela cara que ainda sabe o que é sentir o ar a percorrê-la mas não sabe já que sou eu. Talvez o esquecer seja uma espécie de cancro benfazejo, algo como o morrer do que fomos, apesar de nós. Talvez o esquecer nos salve, apesar de nós. Talvez o esquecer nos proteja da chuva, se mais não fizer. E será bom podermos ir no caminho, sem que nos molhemos demasiado. Talvez o esquecer seja o absurdo que queremos ser, apesar de nós."


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