27/10/17

fraca é a carne

A concepção e construção do talho seguirá a lógica que presidiria à montagem de uma agência bancária: locais de atendimento luminosos, funcionários de fato e gravata, funcionárias com roupa formal, secretárias, com computador ligado em cima e espaço suficiente para que os clientes possam, consultando as brochuras, ponderar as diversas possibilidades: escolha, de entre a carne dos animais disponíveis, de cortes específicos para determinadas finalidades gastronómicas, de preços, de modalidades de pagamento e taxas de juro associadas, incluindo possibilidade de ser feita hipoteca de carne dos próprios clientes como garantia de pagamento das carnes alheias, compradas e a consumir. Haverá um cofre, necessariamente refrigerado, com códigos de acesso complexos e sistemas de abertura retardada, tudo combinado com sistema de vigilância e de alarme destinados a proteger as carnes todas, os fatos todos, os cofres todos, os sangues todos, os que correm desabridamente e os contidos em vasos, em corpos vivos ou nem tão vivos assim, os que não escorrem pelo chão inundando a rua porque tudo está regulamentado e previsto no sentido de isso não aconteça. Detalhe talvez tardio: dentro do cofre, haverá pequenos cofres para que clientes especiais pudessem revisitar peças de carne especiais, raras, carnes dignas de cuidados preparatórios visando futura e insuspeita execução testamentária. Bancos de carne, carne em bancos, bancos de talho, laboração contínua de carnes.

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