09/08/09

momento de auto-terapia de pacotilha...

Há uns anos atrás, não muitos, pensava chegar à idade que tenho hoje com toda a calma do mundo. Cumpriria quarenta anos, lá para o Natal, e estaria a viver uma realidade não muito bem planeada mas conseguida e tranquila, fundada sobretudo nos afectos, com um percurso que me permitisse pensar, na hora de partir, que se lembrariam de mim mais pelo que fui do que pelos objectivos atingidos profissional ou socialmente.
Não podendo hoje queixar-me, sobretudo porque tenho à minha volta pessoas que gostam incondicionalmente de mim, sinto uma necessidade de sair daqui, de fazer diferente, de me embrenhar em outras culturas, em outros espaços, de voar para longe com a família e aterrar num sítio onde vivessemos com mais simplicidade, com menos necessidades artificiais, a nossa utopia, o nosso desafio. Estou cansado de viver sufocado pelo conhecido, pelo previsível, pelas rotinas, pelas expectáveis quebras das rotinas... Em tempo de férias e de Verão, fica bem falar das contingências da 'silly season'. Será este então o meu 'silly post', a minha 'silly adolescência retardada ou o advento pouco auspicioso de uma previsível 'crise de meia idade' ou o suave milagre da chegada da andropausa, envolta em neblina pouco esclarecedora...
Apetece-me terminar com o gasto pensamento de que a vida é mesmo muito curta, demasiado curta para os desperdícios da autocomiseração, da inércia e dos falsos aconchegos. Se calhar Freud, Jung ou qualquer outro mestre na arte da revelação das almas em câmara escura explicariam isto: sempre fui pouco aventureiro, segui sempre o vento dominante, o curso do tempo e a minha disponibilidade quase automática para ir respondendo às solicitações e às dificuldades, não tanto aos grandes sonhos. Agora, com a fidelidade dos comprimidos para a hipertensão e as experiências episódicas, pontuais e clinicamente controladas de ansiolíticos e anti-depressivos, por esta ordem, fui, como me disse a minha mulher com um sorriso terrivelmente cúmplice, possuido por uma alma cigana e anseio por um qualquer 'mudar as raízes de sítio'... Se calhar, bem vistas as coisas e porque via ontem um documentário sobre os quarenta anos de Woodstock, realidade que quase sempre me passou quase ao lado, pensava se não andaremos a queimar algo mais do que combustíveis fósseis e o fumo chegou até aqui?
Não me parece...

6 comentários:

Sara Rodi disse...

Só queria que soubesses que estou no role de pessoas que gosta incondicionalmente de ti. E que, por isso mesmo, estou à espera, desde que te conheço, que pegues nas asinhas e voes para onde tens de voar... PS - Conta mais coisas dos meus sobrinhos...

Claudia Sousa Dias disse...

espera só até os teus pequenos começarem MESMO a dar-te preocupações...

:-)

(ai, que animadora estás, claudia...!)


csd

x disse...

oh,esse espírito aventureiro está na tua rotina, nos pedaços de dia que são só teus e quanto a partir, é sempre tempo. toda eu sou sonhos e percebo este texto mais com a alma do que com os olhos. *

Lídia Borges disse...

Há sempre uma hora em que pensámos poder fazer mais e melhor, mas na maioria das vezes, as reações têm poucos efeitos práticos porque as nossas raízes já ganharam raízes... E quando queremos voar elas puxam-nos pelos pés.
Quem sabe se consigo será diferente?

Boa sorte!!!

Graça Pereira disse...

Gostei desta auto-terapia que eu ,ás vezes também me faço, utilizando muito e "se" e "se". Se( cá estou eu) um dia um desses "Se" se concretizar, pode ser, quem sabe...Entretanto perdemos tempo com estas conjecturas e que não nos deixam realizar coisas de que somos capazes e que estão á nossa espera, mesmo ali, ao nosso lado! Um bj Graça

Demóstenes disse...

Aurea mediocritas...